quinta-feira, 1 de maio de 2008

Maio: Maria: a Escolhida



O Silêncio de Maria

Quando olhamos para Maria, mãe de Jesus, pensamos no seu “silêncio”, pelas poucas palavras a ela atribuídas nos Evangelhos. Isso faz com que a vejamos como mulher submissa a Deus.
Quando prestamos atenção na descrição de Maria que o Evangelho de Lucas revela por trás das palavras, perceberemos que essa face submissa, de humilde resignação, não conduz com a verdadeira face de Maria, visível no seu agir.
Ela é protagonista de sua história, e não mera coadjuvante, é sujeito de suas ações e não instrumento passivo da ação de Deus.
O relato da anunciação mostra que a encarnação do Filho de Deus não foi fruto da violação da liberdade de Maria. Deus se apresenta e mostra-se enamorado – “Alegra-te cheia de graça, o Senhor está contigo” – a corteja – “Não temas, Maria! Encontraste graça junto de Deus”, pedindo sua permissão para fazer dela a mãe de seu Filho. E Maria não aceita sem refletir, ela questiona – “Como vai ser isso, se eu não conheço homem algum?” Ele prova que é aquele que é – “... Isabel, tua parenta, concebeu um filho na velhice...” – Deus mostra que se compadece dos que vivem na pobreza, vítimas da descriminação e da opressão.
Maria reconhece Nele aquele por quem desde sempre está enamorada – “Sou a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua Palavra!” – o consentimento para Deus consumar seu amor e encarnar-se na humanidade. Jesus é fruto desse grande amor.
Grávida do Senhor, Maria não se acomoda, se põe a caminho, tem urgência em cuidar de Isabel. Poderia se engrandecer, no entanto não assume qualquer tipo de presunção e vai colocar-se a serviço.
No encontro com Isabel, mais uma vez a força de sua fé se torna clara no Magnificat, um hino absolutamente revolucionário. Seu Deus é aquele que transforma a história, que destrona as estruturas de poder e inverte as realidades sociais. Esse é o Deus por quem se enamorou e que a faz não temer nenhum mal.
Jesus vai nascer. Novamente Maria mostra seu desprendimento, sua liberdade em relação às convenções humanas. Ela dá à luz o Filho de Deus sem qualquer ostentação. Uma estrebaria é o melhor lugar, quando não há outros lugares; uma manjedoura é o melhor berço para aquecer o menino que nasce fora de casa; uma vaca e um burro são os melhores espectadores para presenciar o nascimento do Filho de Deus e acolhê-lo.
Nada do luxo frio de castelos, nada do agito de gente curiosa, nada de lâmpadas ofuscantes. Apenas paredes de pedras escavadas na rocha o protegem; apenas o calor aconchegante dos animais na penumbra iluminada pelas estrelas do céu.
O melhor lugar do mundo! Porque ali havia vida para colher o Senhor da Vida.
Maria é feliz, seu coração é repleto de paz, sua alma se rejubila aconchegada no amor de Deus. E durante toda a sua vida assim será.
Ela estará ao lado de Jesus, não como serviçal, mas como mãe zelosa, que sabe educar fazendo-o crescer em sabedoria e graça diante do Pai.
O Evangelho de João também mostra o protagonismo de Maria. Nas bodas de Caná, percebendo que vai faltar o vinho – sinal de vida plena para os noivos – Ela se compadece e intercede junto a Jesus. Ela não se apresenta com submissão, mas como quem tem a certeza de fazer a vontade de Deus. Diante da impossibilidade da vida – “Eles não têm mais vinho” – ela é firme: “Fazei tudo o que Ele vos disser!” – quase uma ordem velada à qual Jesus não pode recusar-se. O Filho de Deus, Senhor da Vida, não pode ficar inerte quando a vida se esvai.
Assim é Maria, mulher de fibra, determinada, que escolhe seu próprio destino e o vive com convicção. Nada a faz esmorecer ou a afasta do caminho que escolheu; nem a dureza da vida nem a certeza da morte. Ela sofre com o Filho, seu coração se dilacera com as feridas abertas em Jesus, sua alma se angustia com a rejeição ao amor do seu Amor Maior. Mas ela não se entrega, permanece firme. Será o pilar que irá sustentar a Igreja nascente.
O silêncio de Maria não é ausência de atitude é a afirmação de sua fé profunda, que diz ao mundo que Deus é seu grande Amor. Ela não precisa de palavras, basta o seu agir eficaz. Agir silencioso que suplica a justiça que vence toda opressão; que pede por solidariedade, que torna todos irmãos; que anuncia a paz que é fruto do amor doação.