Celebração dos Ramos
A Semana Santa tem início no Domingo de Ramos, quando celebramos a chegada triunfal de Jesus a Jerusalém, aclamado pelo povo.
Essa passagem nos questiona e deixa muitos indignados pois, numa leitura superficial, imaginamos como pode o povo que o acolheu ao chegar em Jerusalém condená-lo à morte na cruz logo depois.
No entanto, ao fazermos uma leitura mais aprofundada, buscando o significado e o sentido do texto, vamos entender que o povo que aclama Jesus nos portões de Jerusalém não é o mesmo que o condena.
O povo que acolhe Jesus está fora dos portões, não pode entrar em Jerusalém. São aqueles que estão marginalizados, seja pelo ofício, como os pastores; seja pelas condições sociais, como os pobres miseráveis, seja pela condição de saúde, como os doentes leprosos. A esses a entrada em Jerusalém é proibida, só podem ficar fora dos muros da cidade, mendigando a compaixão daqueles que por ali passavam.
E Jesus era reconhecido por eles, caminhava por aquela região e se compadecia do sofrimento dessa gente. No meio deles havia feito muitos milagres, devolvendo-lhes a dignidade humana. Por isso eles o aclamam com grande alegria, o recebem como a um rei.
Já dentro dos muros de Jerusalém moram e trabalham comerciantes, servidores do governo, mercadores, fariseus, sacerdotes, aqueles que possuiam uma condição de vida bem melhor, reconhecidos como "gente de bem" pelo Sinédrio, e que desejavam manter o seu status. Esses não queriam confusão, não queriam perder as mordomias. Incitados pelos anciãos do Sinédrio, que desejavam a todo custo por fim à influência de Jesus levando-o à crucificação, esse povo não pensa antes de condenar Jesus, pois queriam manter a "pax" - isto é a paz romana que somente existiria se ninguém se opusesse ao poder do Império. Ao pedir a crucificação de Jesus eles mantinham-se ao lado de Cesar.
Significado Social do Lavapés
1 – O gesto do lavar-pés transforma as relações de domínio em relações de serviço.
2 – O lava-pés supera as rupturas e divisões, criando relações de aliança.
3 – Inverter o comportamento egoístico em atitude altruísta é fruto do lava-pés. O outro se torna amigo e irmão, os inimigos são acolhidos como amigos.
4 – O lava-pés coloca o outro de pé, levanta os caídos.
5 – Lavar os pés encurtar distancias, vencer diferenças, superar divisões, transformando inimigos em amigos.
6 – O lava-pés nos coloca aos pés das vitimas em atitude de serviço.
7 – Pela força do lava-pés, ninguém será mais espezinhado, chutado, pisado pelo poder, pelo domínio, pela vingança.
8 – O lava-pés nos faz caminhantes e peregrinos em direção ao irmão.
9 – Tem os pés sujos quem alimenta ódio, raiva, vingança no coração.
10 – É indigna a celebração eucarística num contexto de discórdia e divisão, numa situação de indiferença pelos pobres, porque não está na lógica de lava-pés.
11 – O lava-pés é o abraço de reconciliação, é o encontro de perdão, é o dialogo dos diferentes.
12 – Pelo lava-pés caem a discriminação, o racismo, a exclusão, a mentalidade de privilégios e de classes.
13 – O lava-pés é acolhimento, hospitalidade e cura dos pés feridos, pela aceitação das próprias fraquezas e das dos outros.
14 – O lava-pés é uma inversão de critérios, pelas qual o outro se torna centro. O nome do lava-pés, hoje, é voluntariado, altruísmo, solidariedade, gratuidade.
15 – O lava-pés confirma: quem salva não é o poder, mas o amor.
16 – O lava-pés faz da Igreja "casa e escola de comunhão", onde os pobres se sentem em casa.
17 – O lava-pés nos faz misericordiosos, compreensivos e samaritanos, com a coragem da solidariedade e uma nova roupagem para a caridade.
18 – Inclinando-se para lavar os pés dos discípulos, Jesus explica de forma inequívoca o sentido da Eucaristia. O amor fraterno é a prova da autenticidade das nossas celebrações eucarísticas.
19 – O lava-pés indica o poder da ternura e a fraqueza da violência. Ou vivemos todos como irmãos, ou morremos todos como loucos.
20 – Pelo lava-pés percebemos: quem se inclina perante o próximo, eleva-se diante de Deus. É superada a relação senhor – escravo pela relação de aliança e de igualdade.
21 – Enxergamos bem, lá onde estão nossos pés. É preciso ir ao povo, ser companheiro de viagem; os pés fazem a gente ver melhor. Compremos pares de sandálias e andemos ao encontro dos outros.
22 – Lava-pés é despir-se do poder, revestir-se com o avental do servo e desamarrar as sandálias, colocando-se no lugar do outro. Assim fez o bom samaritano.
23 – O lava-pés é escola de relacionamento e acolhimento, atitude de confiança que supera competições, pretensões, invejas e arbítrios.
24 – Lava-pés é desejar os desejos dos outros, querer o bem do outro, interessar-se pelos interesses dos outros, sofrer a dor dos outros e ajudar a carregar seus fardos.
25 – Lava-pés é libertar-se do narcisismo, da aparência, da presunção.
26 – Lava-pés é troca das gratificações pela gratuidade e pelo altruísmo.
27 – Lava-pés é esvaziamento de si e elevação do outro; é a satisfação pelo bem estar alheio. A lógica do lava-pés é não prejudicar e saber alegrar-se com o sucesso dos outros.
28 – Lava-pés é compaixão, tolerância e respeito pelo outro. Tratar os outros como tratamos nossos melhores amigos.
29 – Lava-pés é descer de nosso pedestal e chegar até o chão, deixando que o pó e o barro nos revelem de que formos feitos. "É preciso colocar-se abaixo do pó que os pés das pessoas pisam" (Gandhi).
30 – Quem vive o lava-pés poderás ser um mártir, nunca um algoz.
(Dom Orlando Brandes. Eucaristia e amor social: os pobres e a fome, in: Encontros Teológicos, ITESC, n 44, Florianópolis, 2006. P.63)
Via Sacra
Sempre que nos aproximamos das Celebrações da Semana Santa, Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor, buscamos refletir sobre esse mistério da nossa fé através da meditação da Via Sacra, isto é, dos últimos momentos na vida de Jesus.
Foram momentos cruciais, de sofrimento e dor, mas que transformaram definitivamente a vida daqueles que seguiam Jesus e acreditavam na sua Boa Nova. Assim sendo, a Via Sacra que fazemos hoje, não deve ser apenas o relembrar dos sofrimentos de Jesus, mas um caminho que nos ajude a perceber a nossa própria vida e como ela deve ser transformada à luz da vida morte e ressurreição de Jesus.
A perseguição, condenação e morte de Jesus é conseqüência do modo como Ele viveu, das escolhas que fez, do caminho que trilhou. A sua ressurreição também!
Jesus foi perseguido porque lutava pela justiça, porque se colocava ao lado dos mais pobres, porque questionava a discriminação e a marginalização que os mais humildes sofriam. Para Ele, a maior Lei era a Lei do Amor, e todas as outras deveriam estar a serviço desta na preservação da vida e na instauração da sua plenitude – “Eu vim para que todos tenham vida, e vida em abundância” (Jo 10,10).
Mas o ideal de Jesus entrava em choque com as ideologias de poder daqueles que deveriam zelar para que a vontade de Deus se tornasse concreta. E por isso, os poderosos o perseguiram, acusaram, condenaram e mataram.
Por outro lado, Jesus, em meio a muitos conflitos, mesmo diante da perseguição, jamais deixou de ser fiel ao projeto de Deus. Não se calou diante das injustiças, não se omitiu diante da miséria humana, não se fez surdo ao clamor dos esquecidos. Ele seguia livre, traçando o próprio caminho, indo ao encontro de todos os necessitados. Mesmo ciente de que suas atitudes estavam fomentando a ira dos poderosos, Ele jamais traiu seus ideais e a aliança com Deus Pai. No auge da crise, Ele não se omitiu, mas caminhou decidido em direção ao centro do poder, Jerusalém (Jo 12, 12-19). Poderia ter “dado um tempo”, esperado as “coisas esfriarem”, mas ao contrário, permaneceu firme e seguiu em frente, não para desafiar o poder, mas para ser coerente com o que pregava e no qual acreditava. Permaneceu fiel a Deus e se entregou livremente (Jo 18, 1-11). E foi por essa fidelidade que Deus o ressuscitou.
Meditar sobre os mistérios da vida, morte e ressurreição de Jesus, nos conduz ao itinerário que todo cristão deve seguir para merecer esse título. Discípulo é aquele que segue seu Mestre, que dá continuidade ao seu trabalho, que assume os valores propostos por Ele e os põe em prática. Se dizemos que somos cristãos, mas não vivemos a mesma coerência de vida que Jesus viveu, então não somos nada. Ele mesmo nos advertiu para que sejamos ‘frios’ ou ‘quentes’, jamais mornos, pois a esses Ele os vomitará de sua boca (cf. Apocalípse 3,16). Isto é, devemos ser autênticos nas nossas atitudes, ser verdadeiro nas nossas ações, pois o Reino de Deus não tem lugar para fraudes ou para farsas.
A Via Sacra nos mostra isso, a autoridade de Jesus brota da profunda fé que Ele cultiva e da inexorável coerência entre fé e vida que Ele põe em prática, mesmo diante da iminência da morte. O cristão verdadeiro vive a mesma radicalidade, confiante de que Cristo é o Caminho, a Verdade e a Vida.
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