Evangelho de Marcos: O Autor e a Obra
Embora nas Bíblias impressas o Evangelho de Mateus seja sempre o primeiro, o Evangelho de Marcos, segundo a maioria dos pesquisadores, é o mais antigo dos textos e foi fonte para os outros evangelhos sinóticos. Por isso, vamos começar por ele o nosso estudo.
Marcos não foi um dos apóstolos chamados diretamente por Jesus, mas conforme testemunhos de escritos do Novo Testamento, foi muito atuante desde as primeiras comunidades, acompanhante de Barnabé, Paulo e Pedro, com quem conviveu em Roma e de quem se tornou interprete.
Depois da morte de Pedro, Marcos recolheu tudo o que podia se lembrar das pregações de Pedro compondo um livro escrito em grego popular provavelmente para a comunidade cristã em Roma, composta por pagãos convertidos ao cristianismo.
Por esse motivo Marcos procura explicar bem dados geográficos da Palestina e também costumes e hábitos do Judaísmo, além de palavras e expressões aramaicas, que são desconhecidas para os destinatários dos seus escritos.
O Evangelho de Marcos não é fruto de pesquisa, mas é a conservação da catequese de Pedro. Essa afirmação dos estudiosos tem por base os vários indícios encontrados no próprio texto.
No entanto, isso não significa que Marcos não tivesse outras fontes orais ou escritas. Ele não foi apenas um auxiliar de Pedro, mas foi um verdadeiro autor, compondo uma obra própria destinada a uma comunidade específica de fiéis seguidores de Cristo.
Destinatários do Evangelho
Muitos estudiosos situam a época dos escritos de Marcos entre a morte de Pedro (64 aC.) e a destruição do Templo (70 a.C), período da guerra entre Judeus e o império romano que vai pôr fim à independência dos Judeus e provocar a destruição de Jerusalém.
Os cristãos são duramente perseguidos. Na Palestina são expulsos das sinagogas, acusados de serem os responsáveis pela destruição do Templo, que acreditavam ter sido permitida por Deus por causa da infidelidade dos judeus que se converteram ao cristianismo.
Também são perseguidos pelos romanos por causa da ordem oficial de Nero, que culpou os cristãos pelo incêndio que ele próprio ateou em Roma, determinando a perseguição ao cristianismo.
A comunidade dos cristãos em Roma, com a morte de Pedro e de Paulo e diante de tantos conflitos, se vê mergulhada em incertezas como podemos conferir em Marcos 4,35-38.
Apesar de ser uma comunidade cheia de esperança na vinda do Reino de Deus, no capítulo 9, 1 podemos ver que pensavam que essa vinda aconteceria em breve e os libertaria de toda aflição.
Assim, deveriam estar prontos para esse dia, sem nenhum apego, decididos a deixar a família e tudo o que possuíssem (Mc 1,17; 2,14-15; 3,13; 6,8-9; 10,21).
Esse modo de ser e de pensar mostra que a comunidade ainda estava mergulhada na visão triunfalista da volta de Jesus, que os libertaria e lhes daria a merecida recompensa.
Eles não queriam saber do escândalo da cruz, do martírio (Mc 8,32), esperavam um Messias triunfal. Havia também conflitos internos de liderança, uma vez que os apóstolos e discípulos diretos de Jesus haviam morrido (Mc 9,34-37; 10,41)
Marcos aponta para a realidade da pregação e da ação de Jesus. É preciso buscar o sentido de sua missão, para que a comunidade o veja não como um rei poderoso. Cristo, segundo Marcos se revela como um Filho de Deus, com a tarefa de instaurar o Reino de Deus na história da humanidade.
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