sexta-feira, 23 de abril de 2010

Palestra de Anselm Grün

[O texto publicado a seguir é de autoria de Carlos Seino, que fez um apanhado da Palestra do Monge Anselm Grün, proferida no dia 12 de abril, no Santuário de São Judas Tadeu. O texto foi postado no blog "Nos passos de Jesus": http//nospassosdejesus.blogspot.com]


"Grun começou falando sobre o significado do termo espiritualidade, sustentando, a grosso modo, que a espiritualidade é viver conforme o Espírito de Deus. Que é um desvio muito grande na espiritualidade a idéia de perfeição absoluta e ausência de erros. Explicou que o Espírito, em nós, é uma fonte inesgotável de vida, que tem pelo menos cinco características: esta fonte refresca; é saudável; fortifica; é fértil e purifica. Explicou, com rápidas palavras, cada uma destas características.
Após, também falou das virtudes espirituais como fontes de espiritualidade, notadamente as chamadas virtudes teologais (fé, esperança e amor).
A fé, entre outras definições, é saber-se carregado por Deus. Que tudo o quanto precismos decidir deve ser colocado com fé diante de Deus. É uma confiança de que sou abençoado e de que sou também uma benção. Viver pela fé também me ensina a ter fé nas pessoas, esperando delas o que de melhor podem dar para Deus e para o próximo. Ver em cada pessoa a imagem do Deus vivo. Citou um teólogo judeu que diz que não há linguagem sem fé, nem fé sem linguagem. A linguagem da fé é uma linguagem que aquece o coração de quem fala e de quem ouve.
Uma imagem muito viva do que ele disse é que na relação de confiança é como se construíssemos uma casa em que o outro pode se sentir a vontade e se abrir. A relação como um lugar de conforto, de transparência. A palavra permeada pela fé constrói uma casa.
A outra virtude teologal é a esperança (que é diferente de expectativa). Discorreu sobre a esperança em diversos aspectos da vida. Não ter esperança é o inferno (Dante). A esperança valoriza o nosso fazer; tudo o que faz sentido na vida deve ser feito com esperança.
A terceira virtude teologal, que é fonte de espiritualidade, é o amor, a caridade, que não é moralizante, mas sim uma fonte de vida, de confiança. Falou sobre o aspecto esvaziante e preenchedor do amor, que confia mesmo quando sabe que não dará certo. Que é um desafio nos tornarmos todo amor, assim como Deus é amor.
Depois, Grün falou sobre os caminhos concretos da espiritualidade, ou seja, os rituais.
Discorreu sobre o "acender de uma vela", sobre o criar um espaço sagrado que nos mantém retirados do poder do mundo.
Lembrou-nos de que sagrado também tem a ver com "sanar", com cura.
Também discorreu sobre o nosso "tempo sagrado", ou seja, o momento em que eu sou absolutamente senhor do meu tempo, não importa o quão pequeno ele possa ser. Um momento para eu afirmar, juntamente com Deus, que eu estou vivendo, e não simplesmente sendo vivido. Quem vive somente para preencher as expectativas alheias vive uma vida amarga.
Grün também falou dos rituais que nos ligam aos nossos antepassados, dando o exemplo de sua própria família que há mais de um século, no Natal, realiza os mesmos rituais. Que uma alma que perdeu suas raízes pode se tornar uma alma deprimida. Enfatizou que os rituais nos levam ao encontro.
Enfatizou a importãncia de rituais que abram as portas e que fechem as portas, tanto no início como no fim de ciclos, sejam eles diários, ou por maior período de tempo. A idéia é que eu esteja completamente presente no momento. Rituais simples de saída do trabalho, chegada no lar, etc.
Os rituais que transformam o mundo trazem Deus para dentro de nossa vida, e nossa vida leva Deus para as pessoas.
Também ensinou que a celebraçáo litúrgica tem uma dimensão um tanto quanto terapêutica.
Sobre a oração, falou desta como um sinal de relacionamento, que me põe em contato com Deus e me prepara para a relação com o meu próximo. Na oração, não sou deixado sozinho com meus problemas, com minhas crises, com minhas questões. Na oração, abro-me do jeito que eu sou. Há cura no momento de encontro com Deus.
A ascese, segundo o monge alemão, é o exercício da liberdade interior. Citando Freud, disse que, aquele que não renuncia a nada não saberá sentir o sabor das coisas.
Também falou sobre o ano litúrgico, de como ele pode se tornar um sistema terapêutico. No calendário litúrgico, entramos em contato com um ritmo. O advento, por exemplo, é o momento do desejo, da busca. O natal, é o momento litúrgico do nascimento de Deus na alma humana. Recomeça novamente a vida de Deus em nossas vidas. A Quaresma, que é o tempo da purificação, pratico o exercício da liberdade interior. A Páscoa, é o momento da vida plena, onde a vida floresce em nós.
Observou também que todos os sacramentos da igreja (no catolicismo, são sete) remetem o ser à uma maior qualidade de vida espiritual, visto que os tais acompanham os fiéis por toda a vida. Que na eucarístia, por exemplo, além de todas as outras figuras, celebramos a nossa própria transformação interior. Que no cálice, transformamos as nossas amarguras na vida de um doce amor. A morte e a ressurreição do Cristo opera uma transformação em nós onde não há dureza de coração que não possa mudar-nos, onde o errado recomeça, onde não há túmulo em que a vida não possa ressurgir, onde nossa vida é preenchida de esperança... E assim foi."

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